segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A ARTE DE SABER O QUE QUER



PARALELO ENTRE AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS

Certa vez, convidado pela subseção da OAB de São Gonçalo, para falar aos alunos do ensino médio daquela região, junto com  outras autoridades, senti-me honrado em poder contribuir com pouco que adquiri nestes meus quase vinte anos de trabalho direto com o ensino superior.

Lá estávamos com a obrigação prazerosa de levar, não a esperança, mas a certeza da importância da continuidade do aprendizado, onde jovens, preparando-se para o mercado de trabalho, buscam diminuir a distância entre a necessidade do mercado e a qualificação profissional.

Num primeiro momento destaquei, como requisito essencial, o fazer pelo aprender, pois ao perquirir nossos objetivos com uma concorrência cada vez mais necessitada pela colocação, temos a errônea percepção de que, sendo o tempo curto, devemos nos agarrar a primeira oportunidade que aparece, sem ao menos saber se estamos no lugar certo.

 O tempo sempre será certo, para nós e para os outros, pois a necessidade de cada um, subjetivamente, nos direciona de dentro para fora.

 É vital para aqueles que buscam a realização de seus sonhos, o sucesso profissional, ter a noção exata de suas potencialidades de forma que possam adequá-las ao ofício. Esta adequação, na verdade, é o equilíbrio entre o labor e labuta.Este como verdadeiro mecanismo producente, sendo o primeiro, como definição dos romanos, a satisfação sobre o fazer de outrem como extensão do próprio corpo, o que hoje dizemos “nasci pra isso”.

 Entretanto, lá pelas folhas trinta do processo, uma jovem, de uma escola pública local, sustenta a dificuldade encontrada, por ela e todos aqueles reféns desta garantia constitucional, e não conhecendo o mundo do qual já faço parte, sem ter a certeza de que um dia poderá também integra-lo, questiona-me sobre a diferença entre uma instituição de ensino superior particular e uma pública.

Sem vacilar respondi: nenhuma!

Fundamentei: como exemplo, utilizei o curso de direito, quando o MEC exige no currículo disciplinas fundamentais para o exercício da profissão.

Os professores das instituições particulares, cada vez mais, são também professores das universidades públicas.

Há um controle freqüente por parte do órgão competente, sem entrarmos no mérito da autonomia universitária, seria muito pra eles.

O que nos sobra, na verdade, o próprio aluno. É isso! A diferença está no grau de percepção do aluno.
Bem sabemos que a nossa educação, quando deveria ser a solução para tantos problemas, como desigualdades, violência, fome, tornou-se um verdadeiro problema. Exemplo: hoje, chegamos a conclusão de que “é fácil fazer escolas, o que não descobrimos ainda é o que vamos fazer com elas”. Palavras do mestre Milton Santos.

Houve uma inversão de propósitos, não faz muito tempo as melhores escolas eram as públicas, quando nossos pais se orgulham em dizer que por lá passaram. Não havia, nesta época, a proliferação das escolas privadas, que surgem em função da demanda reprimida daqueles que, com boa sorte, puderam fugir do que sobrou do descaso intelectual. A cada escola privada que surgia, significava um furto a nossa inteligência.

Teleologicamente, àqueles que podiam arcar com as mensalidades das instituições privadas, eram os mesmos que possuíam as condições básicas para o desenvolvimento intelectual, como lazer, esportes e alimentação, o que não ocorre com aqueles “reféns” das escolas públicas.

Com isso, ao chegar o momento da transição para o ensino superior, desencadeia-se a correria para as instituições públicas. Estas, que deveriam atender a parte carente, sempre à margem do desenvolvimento, por serem gratuitas, são aportadas por aqueles em melhores condições perceptivas em função do êxito das necessidades satisfatórias para o crescimento saudável, atrelado à escola, fruto de investimento, não só tecnológico como de pessoal qualificado.

Retrata-se aqui, o triste momento em que o Estado deixa de ser o defensor da educação para ser o seu fiscal-controlador.

Ora, quem protege defende, torna-se, na pior das hipóteses, cúmplice. Quem fiscaliza, controla, correndo  o risco de tornar-se conivente.

Surge a hipocrisia da salvação acadêmica superior: “o nosso produto é bom”. Com uma média ponderada, ,avaliou-se por um bom tempo, as instituições de ensino superior, distribuindo conceitos que variavam entre E a A. Estes resultados, bem da verdade, distorciam todo sistema de avaliação, não só para os pais e alunos, como também as próprias instituições, que modificavam seus projetos pedagógicos, que tem como principal meta traçar o perfil de seus egressos, para  adequá-los ao ranqueamento ministerial, que não é o do trabalho.

Estes mecanismos mostraram-se insuficientes, por não ter função taxionômica, ou seja, não avaliam as modificações que os alunos sofreram em função das experiências feitas com  eles, pelas instituições, ao longo de seus cursos.

Com a nova proposta, o chamado Índice de Desenvolvimento Educacional, os alunos passaram a ser avaliados ao final de seus cursos  ( ENADE). Também serão levados em consideração, não só a infra-estrutura, como também a qualificação de seus professores.

A experiência entre os jovens foi fantástica, principalmente por ter, alí entre eles, jovens que vivem, hoje, onde vivi  minha infância.

Lembrei-me perfeitamente das tardes em que minha única preocupação era comprar o pão às três horas da tarde e esperar os amigos para uma boa partida de futebel, no saudoso campo da Brama. Das noites onde nos reuníamos para ouvir as histórias contadas pelos nossos pais e pelos pais de nossos amigos, que carinhosamente chamávamos de tios. Época em que nosso único medo vinnha dos mortos, pelas histórias enriquecidas em fantasias, e não dos vivos, como hoje ocorre. Sem estes momentos, hoje não seria metade do que sou e apenas sou!

Voltando à educação, terminei com a seguinte frase:

E ficamos nesse “finge que aprende, que eu faço de contas que te ensino”.

Um dia melhora e vejo com bons olhos, jovens de minha época, tentando resgatar nossa infância como legado aos nossos filhos!

Na escola adquirimos o conhecimento. Já a educação, essa vem de casa!

José Carlos Oliveira dos Santos
Bem nascido e criado em Porto Velho SG.
Pró Reitor-UCAM-Niterói

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