Jango e esposa: discurso derradeiro antes da queda |
Por Agliberto Mendes*
Sobre o golpe civil-militar de 64, há uma variedade de versões e informações. Eu mesmo sei de uma versão, conseguida nos bastidores, segundo a qual, o levante de esquerda chegou a ser preparado para acontecer antes de Abril, mas Leonel Brizola exigiu ser o comandante, o líder do movimento, e, como Luiz Carlos Prestes, presidente do PCB, não concordou, o golpe ou revolução da esquerda Brasileira não aconteceu. Entretanto, como esse relato jamais foi confirmado em público, prefiro não assumir ou defender essa informação.
A versão mais recente e, também, mais interessante que conheço, foi fornecida pelo ex Fuzileiro Naval Heleno Cruz, em depoimento oficial e público à Comissão da Verdade de São Gonçalo. Mas antes, vamos fazer uma rápida apresentação do nosso personagem.
Heleno é natural da cidade de Dores de Macabu, município de Campos, RJ. Nascido e criado na área rural, cortou cana e, aos 13 anos, foi apresentado a Machado de Assis, por Dom Casmurro, daí então, nunca mais parou de ler. Suspeito de ligações com movimentos de esquerda, vítima de ameaças e, pelo menos um atentado, concordou em sair da Marinha para salvar a sua vida. Se gaba de ter uma boa memória, a ponto de guardar lembranças de quando era um menino, com apenas um ano e meio de idade.
_”Tem gente que é bom de bola, eu sou bom de memória”.
E é confiando em suas lembranças, que Heleno nos apresenta a sua versão sobre o golpe civil militar de Abril de 1964.
“O levante de esquerda estava marcado para o dia 05 de Abril, a direita sabia e preparava a resistência. Navios da Marinha Americana estavam na costa marítima brasileira, logística preparada para a invasão do Brasil, logo após a eclosão do evento.
Um grupo de brasileiros, como, por exemplo, o Almirante Aragão, o governador Carlos Lacerda, o mineiro Magalhães Pinto, o Brigadeiro Eduardo Gomes e o saudoso Tancredo Neves, articulou, então, um golpe de centro, que evitaria a invasão americana e o derramamento de sangue. Segundo o projeto original, haveria uma “arrumação na casa” e, em 1966, eleições livres e democráticas, cujo resultado seria, provavelmente, a escolha de Juscelino, o mineiro criador de Brasília, como o novo presidente”.
Ainda, segundo Heleno Cruz, “Castelo Branco, no comando da nação brasileira, havia sido uma escolha do próprio presidente dos EUA, pois Costa e Silva era o líder natural do Exército, mas a sua esposa era muito ligada a segmentos de esquerda. E quem liderou e deu início a esse levante civil militar, que deveria ser de centro, foi o, também mineiro, General Mourão Filho”.
Depois, a chamada “linha dura” dos militares assumiu o comando do processo e todos nós sabemos o resultado.
Agora, o leitor pergunta: como o fuzileiro Heleno ficou sabendo disso tudo?
Na Ilha das Flores, Rio de Janeiro, funcionou um centro de prisão e torturas, durante o regime Militar. E lá, em algum ponto da história, eles se encontraram; Heleno Cruz, o fuzileiro e simpatizante dos movimentos de esquerda, na condição de carcereiro do preso General Mourão Filho, uma das vítimas da sua própria “Revolução”.
*Autor do Blog do Vovozinho
Percepção aprimorada dos fatos sociais. um grande adendo para os anais para a história do Brasil.
ResponderExcluirWilson Vasconcelos, grato pela sua generosidade, mas a sorte ajuda muito. às vezes, estamos no local certo, na hora certa e, principalmente, colhendo as palavras da pessoa certa, no caso, o ex-fuzileiro Heleno, abraços.
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