Frederico e a companheira, também comunicadora, Analuz Antunes |
Frederico Carvalho, professor e educador gonçalense, presidente da União dos Jornalistas (UNIJOR), tem um lugar de destaque na cidade. Ele comandou, por exemplo, os festejos do centenário de Joaquim Lavoura em 2013, e fará o mesmo nos 100 anos do eterno palhaço Carequinha neste ano. Na marra, montou um sistema de comunicação independente via web que é um oásis de gonçalidade na TV Ponto de Vista.
Nós fizemos apenas três perguntas, mas as respostas foram suficientes para sabermos o que pensa sobre democracia, política, comunicação e cidade. Vamos a elas.
Jornal Daki
Em sua visão a democratização da comunicação em Rádio e TV ainda está distante?
Frederico CarvalhoA democratização em Rádio e em TV ainda está muito distante, nos moldes do Brasil atual. Os poderios político e econômico ainda ditam as regras e a população depende da TV aberta com um baixíssimo número de emissoras. Isso inclusive limita a concessão de Rádios e TVs Comunitárias, que ficam presas a um único espaço no dial e que não melhorará com a digitalização do sinal. Muito pelo contrário, todo o sinal será controlado pelo governo e isso conflita com a ideia de democratização. Além disso, os aparatos de transmissão ainda são muito caros e a burocracia é estarrecedora. A internet poderia ser uma opção mais viável, mas no Brasil ela é cara, lenta e mal distribuída. Além disso corre risco de um marco regulador governamental, que só serve para limitar mais ainda.
Você é testemunha ocular da história de São Gonçalo nos últimos anos, qual foi a maior mudança? Melhorou ou piorou na sua opinião?
A maior mudança em São Gonçalo, nos últimos anos é a política da desconstrução. Ninguém está preocupado em dar continuidade ao que é bom. O importante é desconstruir obras e ícones. Aconteceu com Lavoura, Luiz Palmier, Carlos Gianelli, Estephânia de Carvalho, Sá Carvalho, Cônego Goulart, Armando Ferreira, Aécio Nanci, Jayme Campos, Hairson Monteiro e tantos outros, gonçalenses ou não, que tenham feito algo pela cidade. E se com os que morreram é assim, não é diferente com tantas personalidades vivas, que a política contrária sempre deseja ofuscar.
O resultado disso é que temos uma cidade sem memória. Nem alunos e nem professores conhecem a história do próprio patrono da escola. Sabem que existe uma Rua Dr. Nilo Peçanha que emenda com a Dr. Alfredo Backer, mas quem foi um ou quem foi outro é detalhe que ninguém se importa. Quem foi Eduardo Vieira, Aloísio Neiva, Dr. Salvatori? Esse holofote do poder é tão direcionado que quando aparece uma nova “liderança” (entre aspas, mesmo), a anterior desaparece e fica marginalizada. Não é só ruim para quem desaparece. É péssimo para a memória da cidade, que acaba também marginalizada e longe dos holofotes do estado e do país.
Como enxerga o futuro próximo de São Gonçalo? Poderemos de fato começar a ganhar tanta importância quanto nosso tamanho?
A importância do município está represada pela falta de memória, pela falta de história e pelo parco acesso à educação de qualidade. Quando se destrói um aparato histórico, que é o antigo 3º BI para fazer casas populares; quando não se dá o valor devido à Fazenda Colubandê; quando se menospreza, se vende e se destrói a Praça Carlos Gianelli para estabelecer um shopping; quando o número de escolas irregulares é o dobro do número de escolas credenciadas, cria-se uma passagem por demais estreita para o agigantamento que o Município merece.
Só que, como tudo na vida, isso tem um limite. E acaba explodindo. Já vemos aqui e ali movimentos pela educação, pela arte, pela cultura, pela história e pela política gonçalense. Esses pequenos focos são brasa no carvão. Chamas são efêmeras e apagam facilmente. Brasa é persistente e contagiante. Logo, se a curto prazo não podemos esperar por melhorias, a médio prazo teremos um povo mais consciente como o carvão que aqueceu a partir de pequenos pontos de brasa.
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