domingo, 25 de janeiro de 2015

POR QUE NÃO DEVEMOS ACABAR COM O CARIOCA

Ronaldo começou no São Cristóvão, Romário, no Olaria
O Campeonato Carioca e a dita da modernização do Futebol Brasileiro

Por Mauricio Mendes de Oliveira*

Em fevereiro começa mais uma edição do centenário e mais charmoso torneio de futebol desse país: o Campeonato Carioca. Calma leitores! Não se trata de regionalismo exacerbado e muito menos saudosismo de um torcedor de meia idade, que viu em pé nas economicamente acessíveis dependências da geral no Maracanã, monstros sagrados como Zico, Roberto Dinamite, Bebeto, Romário, Edmundo e diversos craques cada vez mais raros no nosso “moderno futebol europeizado”.
Digo europeizado porque uma significativa fração da crônica esportiva advoga a adoção de um calendário adaptado a FIFA (leia-se: ao calendário europeu) e o fim dos campeonatos estaduais, sob a alegação que são deficitários, ocupam tempo demais no calendário e não classificam para qualquer torneio internacional.O problema é que se esquecem que vivemos em um país de dimensões continentais e com rigoroso clima tropical, que mataria de cansaço qualquer Cristiano Ronaldo.

Reconheço que são teses tentadoras para jovens torcedores acostumados as confortáveis arenas de hoje e não sentiram (como eu) a oportunidade de ver o seu clube jogar contra o Bangu em Moça Bonita, o Olaria na Rua Bariri, a Madureira em Conselheiro Galvão - e menos ainda - subir a serra para enfrentar o Serrano no acanhado estádio Atílio Marotti em Petrópolis, ou ir a Campos, para encarar o Americano no estádio Godofredo Cruz e o seu rival Goytacaz no alçapão conhecido como “Arizão”.

Como nesse país é tradição entre os pseudo-intelectuais adotar sem muitas críticas “idéias” vindas dos países centrais, os campeonatos estaduais vêm a muito sendo desprestigiados com um número excessivo de participantes, regulamentos esdrúxulos e muito mal geridos economicamente. Tal descalabro administrativo é na verdade mecanismos propositais para dar ênfase a um igualmente “inchado” Campeonato Brasileiro e uma discutível Copa do Brasil.

De qualquer modo, enquanto não surgem cronistas esportivos de bom senso, que reflitam que a modernização do Futebol Brasileiro passa pela adoção de 50% de idéias européias e 50% de manutenção da nossa realidade, vamos prestigiar o nosso velho, maltratado e bom campeonato carioca - que apesar dos “Kfouris” da vida - continua a manter viva a rivalidade entre os quatro grandes clubes da cidade do Rio de Janeiro.

Por isso leitores, além de torcer pelo Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama ou outro clube se sua preferência, não se esqueçam que craques como Romário e Ronaldo “Fenômeno” se revelaram respectivamente no Olaria e São Cristóvão, pequenos clubes cariocas que se encontram hoje a míngua e não recebem qualquer investimento ou alguma ajuda dos seus ex atletas, embora o segundo esteja muito afinado com a Rede Globo, que além de quase monopolizar a mídia no Brasil, há muito tempo vem fazendo às vezes de uma federação de futebol.

*Geógrafo e Urbanista


 

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