Marcelo e Isaías estão apreensivos com o Comperj na praia da Esso |
Os homens do mar que querem o seu pedaço de chão
Moradores e pescadores do local reclamam da falta de atenção do governo e temem serem expulsos da comunidade centenária do Porto Velho
É manhã de sábado. Um dia lindo e céu azul turquesa que nos recebe ao horizonte quando pisamos o píer de madeira com aproximadamente 40 metros que leva os pescadores às suas embarcações na busca cotidiana do cada vez mais raro pescado na Baía de Guanabara.
Estamos num pedacinho de praia de São Gonçalo que deu nome ao bairro Porto Velho. Um lugar cheio de História que abriga uma das mais antigas colônias de pescadores do Brasil e que hoje se encontra em abandono e cercada de incertezas. “Vivemos sem nenhum apoio do poder público. Até hoje não temos luz regularizada”, conta Marcelo, morador e pequeno comerciante da localidade.
A “Praia da Esso” - como é conhecida, devido a presença, durante anos, de um entreposto de óleo diesel da empresa norte-americana no local para abastecer as embarcações que iam e vinham para a cidade - perdeu muito de sua cultura caiçara, mas não a sua identidade: “Queremos o reconhecimento do governo. Essa comunidade existe há mais de 100 anos. E até hoje não temos garantia se vamos ou não poder continuar aqui”, disse Isaías, outro morador preocupado com o futuro daquele pedaço de chão umedecido pelas águas da Baía.
Com o Comperj, os moradores temem ser engolidos pelas grandes empresas que vêm se instalando no entorno da praia.
Praia já foi entreposto comercial de SG
A “Praia da Esso” que compõe o litoral do bairro Porto Velho junto com a Praia da Coroa, já foi o mais importante ponto de chegada e partida de embarcações que iam e vinham com mercadorias que abasteciam a cidade antes da instalação da malha ferroviária que cortou todo município e que hoje está desativada.
A partir dos anos 1960, várias indústrias de transformação do pescado se instalaram na costa de São Gonçalo, a maioria delas concentradas na região do Porto Velho e Gradim. A pesca predatória e industrial na Baía de Guanabara até hoje causa estragos à pesca artesanal e tradicional dos pescadores da região.
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Jornal Daki, julho de 2011
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